Ponte Quinhentista 

A Ponte em Granito da Portagem, que transpõe o Rio Sever, é um dos muitos "ex-libris" do concelho de Marvão e pode ser considerada como uma das mais perfeitas obras de engenharia viária conhecidas no Alentejo.

A sua localização nas proximidades da Cidade Romana de Ammaia (freguesia de S. Salvador de Aramenha), juntamente com a presença de materiais romanos nas suas imediações, têm contribuído para que praticamente todos os autores a considerem como obra dos romanos ou do seu tempo.
Segundo Diogo Pereira de Sotto Maior refere no tratado da Cidade de Portalegre, concluído 1619, existiria ainda no tempo dele (possivelmente nos finais do séc. XVI), uma ponte defronte da qual estava uma porta inteira. Tratar-se-ia do célebre Arco da Aramenha que Manuel de Azevedo Fortes, Governador da Praça de Castelo de Vide, mandaria transportar para aquela Vila no ano de 1710. Esta porta situava-se na área da quinta da Azenha Branca, local de maior concentração de vestígios Romanos da Cidade de Ammaia. A ponte que lhe ficaria defronte seria obra do tempo dos Romanos, se atendermos aos vestígios que ainda hoje se encontram no local.
Informa-nos ainda o autor do século XVII que a ponte foi derrubada para evitar que por ela passasse mercadorias para Castela sem pagarem direitos. Esta ponte foi substituída por outra que na sua altura se construiu mais abaixo, junto de uma Torre que se chamava Portagem. Nesta Torre de características medievais funcionaria a aduana de Marvão e nela se cobrariam os direitos de portagem, funcionando desde, pelo menos, o dia 1 de setembro de 1416 (Laranjo Coelho, 1988).
Conclui-se, portanto, que a vulgarmente chamada Ponte Romana da Portagem, remontará, quanto muito, aos finais do século XVI. É de crer, que a maior parte das cantarias utilizadas na construção da ponte sejam de facto Romanas, certamente reutilizações das da anterior ponte ou de outros edifícios Romanos que abundavam em ruínas na região.
Texto: Jorge de Oliveira

Torre da Portagem

Tendo a Alfândega de Marvão funcionado na Torre da Portagem, por ali passavam, a cuidar da vida, gentes que de um e outro lado da fronteira teimavam em ultrapassar as barreiras administrativas e políticas impostas ao fio da espada que, contudo, nunca conseguiu cortar as ligações familiares ou de simples amizade e vizinhança.

Em 1492 os reis que a si próprios se designaram de Católicos, movidos por motivos de ordem religiosa e procurando a defesa do universalismo da religião cristã mas, também por motivos de ordem económica, expulsaram os judeus dos seus reinos só considerando a sua permanência através da conversão ao cristianismo. Foi um novo Êxodo para o povo de Israel!

É difícil avaliar o montante daqueles que atravessaram as fronteiras portuguesas considerando que algumas famílias ficaram dispensadas da capitação e outros, como os armeiros ou ferreiros beneficiaram de um direito de entrada mais baixo. Os números da fuga apontados pelos diferentes investigadores vão das 15.000 até às 400.000 pessoas. Sabemos, contudo que, só em setembro de 1492, próximo de Castelo de Vide, se montou um acampamento de cerca de 5.000 pessoas guardadas dia e noite por soldados portugueses para evitar as incursões dos soldados castelhanos. Seria caso para dizer: um verdadeiro acampamento de refugiados perseguidos em nome da religião e da intolerância!

Alguns daqueles que entraram em Portugal passaram a fronteira na Alfândega de Marvão, contribuindo desta forma para o momentâneo crescimento dos cofres do Estado, posteriormente fragilizados pela assumpção de uma política de intolerância religiosa que caracterizou as coroas ibéricas. A partir de 1492 as comunas judaicas já existentes em Portugal viram crescer significativamente o número dos seus ocupantes. Foi este o caso da judiaria de Castelo de Vide cujo redimensionamento deve ter conduzido à necessidade de utilizar uma antiga casa de habitação como Sinagoga.

Texto: Carmen Ballesteros